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Junho vermelho: Como doar sangue tornou-se uma missão de vida

Doadores ressaltam que o ato os fizeram ter uma nova visão sobre o fato de existir

14/06/2025 às 13h44

Neste sábado, 14 de junho, é celebrado o Dia Mundial do Doador Voluntário de Sangue, uma data que homenageia pessoas que transformam seu amor ao próximo em um ato que salva vidas. Um gesto simples e rápido, e que pode ajudar até quatro pessoas.

Junho vermelho: Como doar sangue tornou-se uma missão de vida - (Assis Fernandes/ODIA) Assis Fernandes/ODIA
Junho vermelho: Como doar sangue tornou-se uma missão de vida

A doação de sangue entrou na vida do estudante de Educação Física e Fisioterapia Marco Antônio (27) de modo despretensioso. Em 2023, quando foi itido em uma empresa, conheceu alguns colegas que já eram doadores. Incentivado pelos novos amigos, ele decidiu pesquisar mais sobre o tema e conheceu o Hemopi (Centro de Hematologia e Hemoterapia do Piauí), em Teresina.

“É um processo bem simples, leva em torno de 15 minutos. Quando fiz minha primeira doação, foi algo incrível. Eles me informaram que eu poderia doar a cada três meses, e continuei fazendo, pois eu entendia a importância desse ato”, conta Marco Antônio, lembrando que, recentemente, sua avó precisou ser internada na UTI e, devido a uma anemia severa, necessitou receber várias bolsas de sangue.

Doar sangue, então, virou parte da rotina de Marco. No dia do seu aniversário, 02 de abril de 2024, durante uma doação de sangue, ele perguntou ao enfermeiro sobre outras formas de doar. Foi então que descobriu a possibilidade de se tornar, também, um doador de medula óssea. Preencheu o cadastro, fez uma pequena coleta de sangue para análise, e seu nome foi colocado no banco de doadores.

O que ele mal sabia é que, em pouco mais de seis meses, sua vida mudaria completamente. Em novembro do mesmo ano, Marco Antônio recebeu a notícia de que foi encontrado um paciente que era compatível com ele. Sem hesitar, Marco aceitou fazer a doação de medula para essa pessoa.

“Eu pesquisei e vi que, geralmente, a doação de medula óssea é para pacientes com câncer ou leucemia. O local da doação foi em Curitiba, no Paraná. Inicialmente, fiz todos os exames necessários para verificar se eu estava bem. Todos os resultados foram positivos e viajei para fazer, de fato, a doação. Lá, descobri que seria para uma criança que estava com câncer. No dia 19 de dezembro de 2024 fiz a doação. Fiquei muito feliz em ajudar, em saber que, com a minha doação, ela poderia se recuperar e ter uma vida inteira pela frente”, relembra.

Marco Antônio sentiu que ainda era possível fazer mais e, agora em 2025, tornou-se doador de plaquetas - (Arquivo pessoal) Arquivo pessoal
Marco Antônio sentiu que ainda era possível fazer mais e, agora em 2025, tornou-se doador de plaquetas

Vivenciar essa experiência mudou não somente a visão que Marco tem sobre a vida, como se tornou uma missão. “Foi algo incrível, que mudou minha vida para sempre. Um simples gesto de doar uma parte de mim e poder salvar uma vida. A missão da minha vida era essa. Sai de lá tão grato que fiquei com vontade de trabalhar em hospitais, pois conheci muitos pais e pessoas que já tinham sido curadas do câncer, então eu queria ajudar essas pessoas. E, hoje, eu curso fisioterapia, para que eu possa trabalhar com oncologia nos hospitais”, disse.

Com tantas doações, e amor pelo próximo, Marco Antônio sentiu que ainda era possível fazer mais e, agora em 2025, tornou-se doador de plaquetas - uma doação que ajuda principalmente pacientes oncológicos. Sua primeira doação de plaquetas ocorreu em maio.

“Eu digo para todos que a minha missão nessa vida era doar medula óssea. A partir do dia 19 de junho eu poderia ter notícias da criança que recebeu minha doação, mas só poderei conhecê-la pessoalmente em 19 de outubro de 2026. Minha existência é para isso e hoje sou muito realizado. Doar sangue, medula e plaquetas foi a forma que encontrei de ajudar as pessoas. Se as pessoas soubessem como o processo é simples e que você pode salvar até quatro pessoas que precisam, é incrível”, conclui o estudante de fisioterapia e doador Marco Antônio.

Um gesto de gratidão que se tornou tradição

Quando criança, Lanna Lorenna Cardoso (37) viveu uma situação que mudaria seu modo de ver o mundo. Aos 12 anos, sua mãe sofreu uma hemorragia interna e precisou ser levada ao hospital. Mesmo criança, uma frase dita pelo médico lhe chamou atenção e não saiu de sua mente.

“Lembro de ouvir o médico falar que ela sobreviveu devido às bolsas de sangue que ela tinha recebido. Na época, eu era uma criança e não entendia, mas eu coloquei algo na cabeça ‘se alguém doou sangue para minha mãe, eu ia doar sangue para salvar a mãe de alguém também’”, lembra a analista safety. 

Curiosa, a menina perguntou o que seria necessário para se tornar uma doadora de sangue e recebeu como resposta um “você primeiro precisa crescer”. Lanna aguardou então completar 18 anos para, enfim, poder doar sangue, mas, para sua decepção, ela não cumpria todos os requisitos exigidos.

Lanna Lorenna Cardoso com sua mãe, Lenice Cardoso. - (Arquivo pessoal) Arquivo pessoal
Lanna Lorenna Cardoso com sua mãe, Lenice Cardoso.

 “Foi ao Hemopi com um amigo, mas não conseguiu doar naquele momento porque não tinha o peso exigido. Mesmo assim, pediu para que o amigo doasse e prometeu a si mesma que voltaria no ano seguinte, cumprindo todos os requisitos, e levaria outros amigos para doar juntos”, relembra. 

Hoje, o que era um sonho virou uma tradição. No dia do seu aniversário, 12 de julho, Lanna leva seus amigos para doarem sangue com ela. A jovem é reconhecida por ser a primeira “hemoaniversariante” do Piauí, uma referência que ela carrega com muito orgulho, principalmente por incentivar tantas pessoas a doar sangue. 

“Hemoaniversariante” - (Arquivo pessoal) Arquivo pessoal
“Hemoaniversariante”

“Desde então, é assim que eu faço. No dia do meu aniversário levo meus amigos para doar e faço minha festa no Hemopi. Começo a campanha no dia 1º de julho, divulgando e convidando as pessoas para doarem e, no dia 12, fazemos uma grande festa no Hemopi, com direito a bolo e música”, conta. 

A mãe da Lanna, dona Lenice Cardoso também se tornou doadora de sangue e faz questão de estar com a filha nesse momento tão especial. Para Lanna, o ato de doar sangue é tão simples, mas tem uma importância imensa.

Cada um de nós pode salvar até quatro vidas. É uma atitude pequena, rápida, mas que faz uma diferença enorme

Lenice CardosoMãe da Lanna
As demandas são constantes, pois envolvem desde cirurgias eletivas, urgências, tratamentos oncológicos, até vítimas de acidentes. - (Arquivo O Dia) Arquivo O Dia
As demandas são constantes, pois envolvem desde cirurgias eletivas, urgências, tratamentos oncológicos, até vítimas de acidentes.

Doação de sangue precisa ser regular

Comemorado em 14 de junho, o Dia Mundial do Doador Voluntário de Sangue é uma data que reconhece a importância de quem doa sangue de forma espontânea e solidária. Segundo o enfermeiro Melcíades Neto, supervisor do Ciclo do Sangue do Hemopi (Centro de Hematologia e Hemoterapia do Piauí), cada doação pode salvar até quatro vidas, pois a bolsa de sangue é fracionada em componentes como plasma, plaquetas, concentrado de hemácias e sangue total.

“É fundamental manter os estoques abastecidos, pois os componentes têm validade. As plaquetas, por exemplo, duram apenas cinco dias”, explica. As demandas são constantes, pois envolvem desde cirurgias eletivas, urgências, tratamentos oncológicos, até vítimas de acidentes. Por isso, a doação precisa ser regular.

Melcíades lembra que muitas vezes, em momentos de urgência, as famílias fazem campanhas de doação, mas essas doações apenas repõem o sangue que já está disponível no Hemopi, graças a outros doadores voluntários que doaram antes.Ele reforça ainda que todos os tipos sanguíneos são importantes e necessários para manter os estoques equilibrados.

O sangue só está disponível quando alguém se antecipou para doar

Melcíades NetoEnfermeiro

O Centro de Hematologia e Hemoterapia do Piauí (Hemopi) é responsável pelo abastecimento de toda a rede pública hospitalar e parte da rede privada. Com a proximidade do período de férias e também das festas juninas, os estoques ficam com 30% a 40% da quantidade considerada ideal, como consequência da baixa adesão de doadores neste período do ano.

Segundo o Ministério da Saúde, 1,8% da população doa sangue de forma regular. Esse número fica abaixo dos 2% ideais definidos pela Organização Pan--Americana de Saúde (OPAS), mas bem atrás dos 5% registrados em países da Europa. As doações periódicas são essenciais para manter os estoques de sangue e plaquetas, que ajudam no controle de sangramentos e são usadas em tratamentos contra o câncer, por exemplo.

Requisitos para doar sangue

Para doar sangue, basta estar em boas condições de saúde, comparecer alimentado ao posto de coleta, ter entre 16 e 69 anos (menores devem portar autorização impressa no site do Hemopi e maiores de 60 anos devem ter doado ao menos uma vez antes de completar a idade), pesar acima de 50 kg e levar documento de identidade original com foto. É recomendável evitar alimentos gordurosos nas quatro horas que antecedem a doação e, no caso de bebidas alcoólicas, 12 horas antes. Se a pessoa estiver com gripe ou resfriado, não deve doar temporariamente. Mesmo que tenha se recuperado, deve aguardar uma semana para que esteja novamente apta à doação. Quem tomou a vacina contra a gripe precisa esperar 48 horas antes de doar.

Serviço

O Hemopi funciona na rua 1º de Maio, 235 Centro/Sul. As coletas são feitas de segunda à sexta-feira, das 7h15 às 18h, e aos sábados e feriados, das 7h15 às 17h. Também é possível doar sangue nos Hemocentros regionais de Picos, Parnaíba e Floriano de segunda à sexta das 7h15 às 18h.


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